quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quando o dito “normal” nos faz sentir “mal” e “anormal”.




Bons momentos para todos.
Queridos amigos, hoje me sinto estranha, mas acho que é porque está tudo “normal”.
Normal, normalidade, aceitável, não contestável. Não contestável?
Definamos normal, mas vamos por partes:
Normal adj2g. 1 que serve de norma. 2 comum
Norma sf 1 regra que se deve seguir. 2 Modelo, padrão.
Normalidade sf qualidade ou estado de normal.
Normalizar-se tornar-se normal
Então vamos perguntar e pensar a respeito:
Saímos para tomar um chopinho e conversar bobagens até altas horas e depois voltar para casa dirigindo ou não e curtir a ressaca? Nada de mais, é muito “normal”.
Que tal passar o carnaval naquele lugar super lotado, brincar, pular, encher a cara “curtir” os trios elétricos ou assistir àquele desfile no sambódromo ou melhor ainda, gastar uma fortuna na fantasia e desfilar feliz da vida? Super “normal”.
Vamos curtir aquela churrascaria com aquela variedade de carnes sangrentas desfilando e comer até não caber mais? “Hiper normal”.
Que me diz de curtir com a cara dos outros, mentir, xingar o motorista que nos fechou, jogar papel na rua, ouvir música alta no metrô, fofocar na esquina, bater boca na porta da escola, enganar o fisco, falar mal dos políticos, mentir na internet, assistir pornografia... Tudo isso é claro, dentro da “normalidade”. Estes são só alguns exemplos do que estamos acostumados a definir como normal e mesmo sendo absurdamente grotescas as “coisas comuns” que nos acostumamos a fazer, ouvir, sentir, presenciar, exemplificar e aceitar o que “foge a regra” da rotina é denominado de anormal. Vejam bem, são só alguns exemplos e podem parecer exagerados ou intencionalmente exemplificados com fatos que na verdade o geral “desaprova”. Desaprova mesmo?
Engraçado que a definição de anormalidade é vista como uma coisa fora do comum, mas no sentido ruim da palavra.
Vejamos:
Anormal adj 2g e s 2g 1 Quem, ou o que se afasta da regra, do considerado normal 2 diz-se da criança ou adulto que apresenta deficiência mental que dificulta sua adaptação ao ambiente em que vive.
Anormalidade sf qualidade do que é anormal 2 o que é anormal
Quando se acha coisas, comportamentos, atos, regras, rotinas e exemplos diferentes da “normalidade” rotineira a que estamos acostumados, taxamos de “anormal”.
É assim que me sinto. “Anormal”. Já que não consigo mais me encaixar nestas “normalidades” que a vida me apresenta e que passam a ser regra de comportamento.
Ser “normal” para mim me faz mal, não me encaixo não me enquadro.
Prefiro ficar em casa descansando ou lendo a ir num barzinho barulhento onde a bebida rola e o papo enrola.
Prefiro assistir a um bom filme, um bom seriado ou mesmo uma novela sensata do que estar em um shopping lotado perdendo tempo olhando vitrine.
Prefiro receber ou visitar para um lanche tranquilo com um papo saudável a encarar um rodízio gordo de alguma coisa gorda qualquer, onde não se consegue comer nunca o “suficiente”.
Prefiro interiorizar meus momentos em reflexões construtivas do que ficar pensando na vida do vizinho, do amigo, do sujeito que passa.
Prefiro ficar sem companheiro a dividir futilidades, egoísmos e vaidades.
Prefiro dizer não a dizer sim sem vontade.
Prefiro ficar um mês sem postar nada, sem colocar nada no face a fingir, inventar e querer aparecer de qualquer maneira.
Prefiro o subúrbio à angústia da ilusão materialista da zona sul e similares.
Prefiro ter pouca roupa e usá-las a lotar meu guarda-roupa com inutilidades.
Prefiro falar a verdade e algumas vezes ofender a mentir e contentar.
Prefiro ver meus filhos chorarem para aprender do que chorarem por se arrependerem.
Prefiro ter um carro mais simples e poder banca-lo a ficar sem dormir por causa dos custos do carrão.
Prefiro pensar, refletir e mudar a ficar rígida em conceitos que me paralisam.
Prefiro parar a andar sem rumo.
Prefiro me educar a tentar educar o mundo.
Prefiro chorar a ser alegre triste.
Prefiro o silêncio total a assistir um big Brothers.
Barzinho barulhento, shows infernais, boates estridentes, carnaval, datas comemorativas que atiçam o consumismo, engarrafamentos, conversas fúteis, ladainhas religiosas, discussão políticas, papo de novelas, falta de educação, falta de gentileza, falta de semancol, gordura demais, refrigerante, cerveja e outras coisas mais que nem dá para citar, para mim é anormal e quando vejo a minha volta opções rotineiras, costumeiras, frequentes e aplaudidas sobre todas essas coisas ditas “normais” vou me sentindo estranha e achando que quem sabe, eu é que sou ANORMAL?
Paz e muito amor para todos.  Valéria Ribeiro.