O sentimento de culpa está presente em nós desde os primórdios da humanidade, inconscientemente nos sentimos responsáveis por tudo que acontece em nossa volta e este sentimento é reforçado mesmo antes de nascermos, no ventre materno, quando ao captarmos as vibrações positivas ou negativas de nossa mãe, vibramos também essas sensações formulando em nós responsabilidades que nos são impostas e que possivelmente assumiremos no futuro.
Já primitivamente ele se faz presente, pois percebemos a necessidade de sobrevivência a que deveremos assumir e instintivamente sabemos que cabe a nós tal sobrevivência e que o mundo lá fora espera atitudes.
Culpamos-nos então, pela gravidez, pelo parto, por qualquer dor que nossa mãe sente e sentirá pela impotência diante do novo para ela, etc. nascemos e passamos a fazer parte da vida material e suas cobranças, percebemos reações novas diante de nossas necessidades e a angústia que ela trás para nosso responsável íntimo. Se o suprimento dessas necessidades materiais não nos alcança, seja por desfavorecimento social e ou familiar, nos culpamos pela solidão dos afetos, pela fome, pela injustiça e por tudo que ela causa em nós e em nossa família.
As culpas que estão em nossa alma, refletidas pelo perispírito que as mantém fixadas a espera da cura, misturam-se às novas e assim sucessivamente as cicatrizes vão aumentando e cobrando o despertar para a cura.
Que fazer diante de tão complexa experimentação? Perguntamos-nos se não há exagero em tais afirmativas e se é certo generalizar tais sentimentos. Então, por que nos sentimos envoltos em fobias, em carências, em transtornos e em vários desequilíbrios, pequenos ou grandes que lotam os consultórios neurológicos, psiquiátricos, psicanalíticos, grupos de estudos, rodas de troca de experiências e tantos outros oferecidos à nós?
Não terminamos com o namorado, mesmo que nos faça mal por pensarmos que temos culpa, não saímos de um casamento que nos violenta por nos sentirmos culpados por tê-lo escolhido, não nos distanciamos daquele amigo que nos vampiriza por acharmos que somos responsáveis pela escolha de sua companhia, não nos desvinculamos daquela crença por acreditarmos que ela nos aliviará da culpa por ter precisado procurá-la. Sentimos-nos tristes e inseguros, por isso precisamos deles ou delas.
Então como nos livrarmos desse sentimento que foi o ponto de partida para o nosso sofrimento? Procurando através do autoconhecimento identificá-lo e tratá-lo num auto-ajuste das verdadeiras responsabilidades que incutimos em nós mesmos em todas as nossas vivências.
Devemos procurar justificar os atos e as respostas como procedimentos naturais da sobrevivência, assim poderemos nos poupar da responsabilidade pelas atitudes, sentimentos e cobranças que são naturalmente feitos à nós.
Sentindo-nos livres dessas cobranças, poderemos aceitar que tudo pode acontecer, mas que nem sempre são nossas responsabilidades. Dessa forma, o sentimento de culpa não aflorará e poderemos nos sentir sem dívidas com quem quer que seja. Mas sabemos que esta transformação não se faz num toque de mágica, precisamos querer e procurar ajuda, para que estes sentimentos possam se dissolver deixando à mostra a auto-afirmação de nossos atos diante da vida sem nos desvincularmos do nosso papel na existência humana, pois fazemos parte desse mundo e somos importantes para o equilíbrio Universal. Não se sentir culpado não é ignorar fatos e atos eminentes da vida, mas assegurarmos que são parte dela e que ela se faz presente na lei de causa e efeito. É necessário reconhecer os erros, consertá-los e seguir a diante nos perdoando e perdoando o outro. Esse é o melhor caminho.
O conhecimento íntimo através da auto-análise nos faz avaliar o verdadeiro peso dos atos e conseqüências praticados, curando as cicatrizes criadas por nós. Sabemos também, que muitas cicatrizes são trazidas de vidas passadas, estão marcadas em nosso perispírito e o reconhecimento e superação desses medos e culpas, ajudará na busca do equilíbrio. Podemos sim, reparar nossos erros, nossos traumas, nossas culpas ainda nessa reencarnação, desligando os elos que nos unem aos nossos supostos “inimigos”, sintonizando a paz, a felicidade, o perdão, o resgate. Vigiemos nossos pensamentos, pois foram por eles que os atos se fizeram praticados, oremos diante da dificuldade, do medo, do desânimo, do limite. Vibremos amor, assim gradativamente limparemos o nosso redor da escuridão, trazendo a energia que despertará a luz interior. Assim, finalmente nos curando e nos tornando verdadeiramente espíritos plenos em sua imortalidade.