segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nossas prisões

Quando fomos criados pelo Pai, simples e ignorantes, nos foi presenteado além da vida no seu sopro cósmico Universal a liberdade que veio no livre arbítrio que o Criador nos proporcionou para que pudéssemos usufruir dele todo o espaço planetário.
Ironia do destino ou não, aí começaram as nossas prisões.
Rastejantes tomamos a terra fugindo da prisão das águas que já não nos satisfaziam e nos sufocavam. Num esforço nos inclinamos verticalmente, pois a terra tomando todo o nosso corpo já nos restringia e nos aprisionava num olhar limitado. Levantamo-nos. Todo aquele espaço nos parecia pequeno e fomos desbravando-os em lutas pela sobrevivência nos aprisionando nas batalhas dos sentimentos até então desconhecidos. Conhecemos o frio, nos aprisionamos nas vestimentas.
Continuamos procurando abrigos cada vez mais apropriados, mais seguros, mais espaçosos, tínhamos que protegê-los, afinal nos protegiam e poderiam querer tomá-los de nós. Seguimos em favor da evolução buscando nos adaptar às situações que nos rodeavam e que foram provocadas por nós.
Necessitávamos do alimento, algas, plantas, frutas, carnes. Nossa prisão agora era a fome acrescentada ao sabor. Então veio o fogo e com ele o calor além do sol. O assado. Nossa prisão agora era a gula.
Andávamos e corríamos, mas a roda nos pegou e nos aprisionou no comodismo. A distância já não nos parecia tão distante e as águas já não serviam só para beber e nadar mas para sustentar botes, barcos e navios. Grandes prisões em dias, meses e anos em prol das fantásticas conquistas. Selamos nossa prisão nos assassinatos, latrocínios e escravidões que vieram com os ódios, as vinganças e os revides.
No sexo oposto avistamos as diferenças e vislumbramos as belezas. Comparamos e trocamos conforme os gostos e desejos, assim nos aprisionando na luxúria e no desamor nas traições e no ciúme.   
Descobrimos as artes, o belo, a variedade, os recursos e as disponibilidades artificiais. Trocamos o belo gratuito pelo belo arquitetado. Aprisionamos-nos na vaidade.
Decidimos que o que conquistamos com esforço ou não só a nós pertencia. Encarceramos-nos no egoísmo. Desvalorizamos a vida que nos foi dada gratuitamente nos afundando na supervalorização do que nos dão interessadamente. Aprisionamos-nos na matéria, no dinheiro, na ganância e nas disputas.
Um dia acordamos numa sensação de que algo nos pesa e queremos respostas. Entramos no cárcere da religião equivocada e da fé alucinada a espera das chaves que destrancarão nossas prisões. Essas chaves não abrem os cadeados.
Aprisionamos-nos ainda mais na desconfiança, nos débitos, nas ilusões. Buscamos um céu livre de nuvens, um portão dourado e um braço sem rosto para nos libertar.
Aprisionamos-nos então na decepção, no vazio e percebemos que tudo que temos representa o que nada temos, pois o que nos liberta está naquele sopro do início, naquele presente nos dado com a vida, a nossa liberdade em nossas escolhas que destrancará todos os cadeados de todas as prisões a que nos acometemos. Assim, redescobrimos o Pai, o espírito e a felicidade plena.