quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CARIDADE ou caridade, o que praticamos?

Estive pensando no verdadeiro objetivo da caridade, neste ato de praticar a caridade que tanto falamos. Penso também nas pessoas, foco principal desse ato. Procuro entender o fundo que move o praticar caridoso e as diversas desculpas que se procura para justificar as escolhas ao praticá-la.
     As pessoas desprovidas, alvo de tal prática pelas pessoas mais providas, sempre estão sujeitas a raciocínios e idéias pré-formuladas do que elas realmente precisam e merecem. Quando se movimenta para a prática da “caridade”, essa avaliação quase sempre é cruel, justifica-se o que não se têm, com aquilo que nunca teriam, então, são escolhidas as “citycós e 1,99” da vida para o suprimento dessa “caridade”. As promoções, as marcas inferiores e as substituições alimentares são feitas com frequência, pois “o pobre deve se adaptar” e “para não se acostumar já que não têm sempre”, esses argumentos são comuns, podendo parecer cruel, mas é a realidade, com raríssimas exceções.
     Diz a Doutrina que “Fora da CARIDADE não há salvação...”    mas, interpretada como nos convém, damos nosso “jeitinho” para praticá-la.
     Cristo não escolheu suas obras caridosas pelo o que achava que precisavam, esperava a verdadeira necessidade aflorar no necessitado para dar tudo de si. Grande era o seu poder, mas igualando-se ao desprovido doava-se despretensiosamente.
E nós? Igualamo-nos aos que pensamos que ajudamos? A igualdade é praticada pelos que se dizem herdeiros de Cristo no ato caridoso?
     Passamos pelo Natal, mês de grandes caridades, como que se a necessidade do irmão aguardasse tal data para ser atendida. Roupas novas nas sacolinhas, brinquedinhos melhores, bolsas de alimentos mais providas, pois essa é a data... ”Jesus nasceu”... Devemos comemorar, dizemos.
     Tivemos o ano todo, mas nos atemos em datas para praticar a “caridade material”, essa que vemos e achamos de real necessidade. Mas, nos esquecemos da CARIDADE espiritual, essa que tivemos o ano todo para doar. Boas energias, atenção ao aflito, boa vontade ao receber o irmão, receptividade aos que nos procuram, esforço no colaborar, boas idéias para harmonizar, ouvidos para ouvir, boca para consolar, mãos para apoiar e braços para abraçar.
     O ano passou e chegou outro, tivemos a oportunidade e ainda temos. Hospitais, casas de caridades, orfanatos, asilos, as ruas, as favelas esperam por nós na verdadeira CARIDADE do Cristo. Então, pensemos... CARIDADE ou caridade, o que praticaremos?
     Quando escrevi este texto há uns dois anos atrás para um jornalzinho espírita da cidade em que morava coloquei minhas observações daquele momento. Intrigava-me essa dúvida a respeito da verdadeira caridade, pois me prendia às necessidades da instituição em que me dedicava.
      Hoje, após mudar para uma cidade maior, fiquei a me perguntar se estava em mim entendido o meu discurso de outrora. Onde se modificou em mim essa prática?
     Deparei-me com realidades que não presenciava por lá. Crianças e Jovens nas ruas drogados, números sem fim de mendigos, pedintes e maltrapilhos. Uma multidão de pessoas indo e vindo, uma quantidade enorme de hospitais, orfanatos, abrigos. Apesar de já ter vivido nessa mesma cidade antes de mudar para a menor, eram tempos de raciocínio pobre com relação às necessidades fraternas. Na época não me detinha nestas questões.
     Passados anos numa vida mais calma, mas que nem por isso me deixou de pregar as peças das necessidades íntimas em “buscar” auxílio na fé, fui dessa forma movida às questões do comprometimento Universal e a caridade em primeiro lugar me chamou a realidade. Lá, a caridade institucionalizada. Aqui, a caridade individualizada, pois somos chamados a todo instante a praticá-la. Então veio a crise e o apelo: - Meu Deus, como praticá-la nessa situação? O que buscar? Perguntava-me a todo instante. E a resposta veio rápida. – Sempre que fores necessitada. – ouvi em meu íntimo a solução.
     Agora me sinto aberta para em todo instante estender as mãos a eles os meus irmãos que me solicitam. No sinal ao atravessar um deficiente visual, um remédio que uma mãe implora ao seu filho, um docinho que compro de um jovem, um alimento a uma solicitação repentina, uma palavra de conforto numa fila do banco, um conselho no mercado, um ouvido disposto a receber aquele desabafo, uma explicação que me pedem uma orientação a uma dúvida e tantas outras formas que vão surgindo a cada momento. São atos que aos poucos vão fazendo parte de nossa rotina e que cada vez mais aprimoramos em nosso coração a necessidade em praticá-los. Também me fiz mais maleável respeitando a caridade de cada um em seu momento evolutivo. O que vale é a intenção, não é mesmo? O coração aberto para ofertar o que podemos oferecer. E na roda da evolução, o merecimento está em cada um que recebe aquela oferta. “– O que queres?” Perguntou Jesus ao solicitante.
- O que queremos ofertar? Perguntamos nós ao nosso coração.
Portanto, respondendo a questão CARIDADE ou caridade? Podemos praticar ao nosso modo e ao nosso tempo.
“E quanto fizerdes, por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus, o Pai”. – Paulo (colossenses, 3:17).