quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quando o medo de morrer nos faz parar de viver.


Bons momentos para todos!
Queridos amigos, estive um pouco afastada da inspiração. Não sei, talvez seja porque meu tempo esteja muito sobrecarregado de “compromissos” exatamente, coloco entre aspas porque nossos compromissos por serem construídos por nós não podem ser considerados responsáveis por nossas desculpas. Comprometemo-nos porque queremos e sem querer exagerar na definição digo que as decisões em iniciar nossos compromissos são nossas mesmas. Mas isso é outra coisa. Na verdade o que me traz a este discurso é  um de meus “compromissos” a situação em que vivo na convivência com meu pai. A cada dia fico mais intrigada com a vida que ele escolheu consciente ou inconscientemente para “viver” entre aspas também, pois literalmente ele não vive, pois “morre” de medo de morrer.
Já fiz de tudo. Falei da Doutrina dos espíritos para ele o que ele nem quer ouvir falar, o presenteei com o livro Quem tem medo da morte do Richard Simonett numa ocasião e ele nem tocou. Terapia nem pensar! Não aceita. A síndrome do pânico que ele apresenta deriva de tudo que existe, pois para ele tudo pode mata-lo. Um dia a água está contaminada, outro a comida envenenada, andar faz mal, remédio mata. Não sai de casa, fica deitado quase que vinte e quatro horas só levantando para fazer as necessidades, comer alguma coisa e de quando em quando tomar banho. Sei que muitas vezes a idade avançada pode nos trazer depressões e estados emocionais que nos isolam, mas no caso dele é a morte que o isola. Morrer faz parte do seu dia a dia já que só fala nisso. Fico até desconfiada quando ouço e me vejo crente da teoria que atraímos para nós o que queremos, pois meu pai vive pensando na morte e com oitenta e dois anos de idade seus exames parecem os de um adolescente que vende saúde. Concordo que o estado mental comanda o corpo, mas o medo da morte não atraiu a morte do corpo para ele, pelo contrário afastou. Acho eu. Também concordo que ele vive como “morto”, pois não vive, não tem prazer, felicidade, alegria, motivação. Sua comida é sem graça, seu dia é sem graça, sua família não lhe estimula por mais que tente.
Meu pai é viúvo e embora tivesse oportunidade de ter uma companhia e teve, dispensou pouco depois, nunca morou sozinho. Sempre moramos juntos e mesmo quando minha filha mais velha casou, morou com a gente por um tempo e ainda moramos com a minha filha mais nova.  Mora com a família tem tudo, conforto, alimento, plano de saúde, aposentadoria, companhia, tudo que muita gente não tem. Com tudo isso, não vê televisão, não lê, não assiste a um filme, não sai de casa para nada. Ouve rádio, mas apenas para ouvir as desgraças da vida e repassá-las para nós. Não deseja boa sorte, vai com Deus nem felicidades. Quando nos despedimos para irmos a algum lugar só evidencia as possíveis “desgraças” que podem acontecer. É um verdadeiro urubulino como já brincava Chico Anízio em seu programa.
Não falo tudo isso para expô-lo nem ridicularizá-lo, apenas o coloco como exemplo verdadeiro do “morto-vivo” literalmente. E isso não me alegra, nem me deixa feliz, pelo contrário, me entristece muito e cada dia me faz querer viver intensamente aproveitando e agradecendo cada momento, cada dia, cada oportunidade de fazer alguma coisa, ser útil, construir e desenvolver algo para que possa sentir a vida fluir com alegria. Procuro me auto imunizar dessa sintonia e influência triste. Assim, me comprometo com meus compromissos diversos criando, executando, transformando meus dias construindo e estimulando vida ativa e forte.
Quando temos opção para não nos comprometermos muito com os compromissos como disse antes, pois a escolha é nossa, não quis dizer que é ruim, pois nossos compromissos nos assinalam movimento, ação, vida! Devemos somente dividir melhor para que não nos sobrecarreguemos de afazeres maçantes e desgastantes.  Precisamos querer viver para viver, amar viver para nos sentirmos vivos valorizando cada instante sem medos nem fugas.
Quando nascemos já estamos “morrendo”, ou melhor, nascemos para aprendermos a morrer e quando cremos na verdadeira vida que é aquela que anula a morte não tememos morrer, pois ela não existe. Aproveitar a vida adequadamente sem exageros e com consciência nos faz viver realmente. O medo da morte que anula a vida mata a oportunidade do espírito de viver as experiências, porque o medo entristece, isola  e por incrível que pareça não mata apenas nos condena a estarmos mortos em vida. Assim, quando efetivamente a morte chegar, trará o medo de viver, pois morrer aqui é renascer em espírito e o medo daqui é transportado para lá e o medo de morrer aqui continuará no medo de viver lá.
Paz e amor para todos. Valéria Ribeiro.